quarta-feira, 4 de outubro de 2017

ZONA ANTIGA DE ALDEIA DE JOANES - UM PATRIMÓNIO ESQUECIDO

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Às portas da igreja
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De véspera tinha ficado a intenção: amanhã vamos visitar a zona antiga.
Aldeia de Joanes, nos tempos que decorrem, tende a ser absorvida pela expansão urbana do Fundão, havendo já muitos que consideram que, praticamente, já nada há que as separe. Profundo engano. Poderá vir a ser assim, mas de momento existe um património, oral e edificado, que torna bem claro que esta povoação tem memórias muito próprias, alicerçadas numa forma de viver bastante peculiar. Para quem tem pressa - e o mundo, convenhamos, parece cada vez mais apressado - isso não é notório, mas para quem tem tempo de sair da rua principal, embrenhando-se nas escondidas ruas e travessas da velha povoação, vai poder deslumbrar-se com o que ainda resta de antanho: duas fontes de mergulho, três chafarizes, uma igreja matriz de evidente estilo românico, apesar das posteriores reformulações, e um numeroso lote de casas quinhentistas, marca evidente da importância judaica no desenvolvimento da região.
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Fonte de mergulho
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O chanfrado dos portais quinhentistas, com um ou outro lintel decorado, começou por merecer a curiosidade dos alunos do 4.º ano, interiorizando o conceito. De tal forma que, ao depararem-se com outras habitações com a mesma marca, a "coisa", antes totalmente desconhecida, começou a parecer familiar.
Depois, na Rua do Castelo, passaram por balcões, da casa que, há muitos anos, serviu de cadeia, sempre ladeados por marcas quinhentistas. Chegados ao topo da rua, na convergência com a Rua do Alto, foram "devidamente conduzidos" a especular sobre a existência no local, noutros tempos, sobre a existência dum pequeno castelo. Segundo a tradição local, veiculada nos mais idosos, parece que ele existiu mesmo.
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Balcão na Rua do Castelo
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Passámos ao lado da Quinta do Paço, que ainda ostenta passado majestoso, e orientámos o nosso objetivo para a igreja matriz, ex-libris do local. E não é caso para menos: com um histórico que alguns remontam à influência de D. Sancho II, o Povoador, aquando do foral concedido à Covilhã, esta igreja apresenta evidentes sinais de construção românica, característicos do início da nacionalidade. Para esta convicção muito contribui a forma de aparelhamento da pedra, vestígios de arcos românicos e o que resta da cachorrada, figuras esculpidas em granito mesmo junto ao telhado. Infelizmente a maioria foi substituída posteriormente por meras figuras geométricas, restando apenas três ou quatro. Realce ainda para uma porta lateral com um arco gótico, evidente sinal de posterior acrescento.
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Exemplo de chanfrado
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O tempo ia passando, quase sem darmos conta, de tal forma estávamos imbuídos na descoberta. Os alunos, de papel e caneta na mão, iam tomando notas. O sol, porém, é que não estava para concessões. E, vergados pelo poder do astro, mais não restou que empreender o caminho inverso.
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O chafariz retemperador
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Um dos chafarizes, o único com água potável, estava mesmo à mão de semear quando o calor mais apertava. E eles lá se dessedentaram, ganhando forças para reparar, enquanto caminhavam, numa ou outra romãzeira. A escola, felizmente, já estava perto.
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1 comentário:

Beatriz Ribeiro disse...

Foi muito fixe!!!